segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Ouçam seus pais



Ok, hoje não é um dia propício para eu expor esse tipo de comentário, mas com certeza ele está sendo o motivo de uma azia que se instalou dentro de mim após olhar a minha conta bancária. Para não deixar exemplos negativos, não, ela não está no vermelho, mas confesso que calcular quanto eu poderia gastar por dia até a data do próximo pagamento é algo assustador e panchos estão fora da lista de alimentação por dieta de custos. O que este papo tem a ver com os pais? Tudo! Alguém já deve ter discursado em sua frente falando sobre a beleza da profissão que toca o coração e faz tu levantar todos os dias com uma gana enorme de cumprir as tarefas. Geralmente essa graduação não faz parte dos planos daqueles que já passaram por isso (pelo bom e pelo mau exemplo) e que só querem o nosso bem... nos privando de futuras dores de estômago, cabeça e outras patologias que não nos permitem nem comprar remédios (afinal os impostos estão matando a gente mais do que as enfermidades).

Pois bem, eu fui uma das que não cumpri o título dessa crônica. Direito era o assunto da adolescência e eu até queria. Poder cursar uma faculdade que logo me ofereceria um leque de oportunidades é uma arma e tanta para conquistar um bom futuro. Porém, a minha teimosia, aliada à paixão pela escrita (que até hoje não me deixou publicar um só livro que fosse), fez eu rumar para a Comunicação Social. Mas olha só... que curso lindo! Que bela profissão! Quanto glamour! BOBAGEM! Fiz a habilitação em Jornalismo e logo quis continuar os estudos, ingressando em uma pós-graduação que me abriria portas para Mestrado, Doutorado e, quem sabe, para as salas de aula do Ensino Superior (agora como a teacher da galera). E aí está mais uma coisa que eu não espera: eu sonhando em ser professora por conta de um salário que é tão pequeno, que só encarando as noites de quadros e canetas para diminuir o excesso de pobreza que se instaura na minha receita. (Confesso, eu queria mesmo era telejornalismo e ainda assim eu teria que ter uma sorte do tamanho do mundo e inversamente proporcional ao meu salário para poder contar com uma conta mais gorda, afinal eu teria que ser descoberta pela Globo e aí todos já sabem: cartas marcadas não me colocam entre elas).

E aí, depois de todo esse trololó, fica aqui a minha insatisfação, não com as empresas, mas comigo mesma que escolhi teimar em pleno ano novo de 2010 para bater as patas (sim, pois só sendo um animal para não ouvir os pais) e dizer que se não fosse Jornalismo, não seria faculdade alguma. Em março, lá estava eu, toda orgulhosa, ingressando na Comunicação Social de uma Universidade particular. Para ser mais legal ainda, fui prestar estágio gratuito em uma rádio e admito que foram os estágios que me fizeram ver um mundo ainda mais lindo dentro da mágica comunicação. Talvez essa minha crise de existencialismo jornalístico não tivesse surgido na época por eu ter conseguido uma bolsa do ProUni e sim, eu sou muito grata ao Governo por isso!

Tão logo eu acabava a graduação e já vinha com um sorriso de orelha em orelha... o curso acabava, mas as minhas alternativas não. A empresa que me amparou ainda como acadêmica, fez eu ficar e me deu o salário exigido pelo Conselho dos Jornalistas... Só que, convenhamos, para quem cursou uma faculdade de quatro anos, estagiou durante esses oito semestres e meio e que resolveu que queria criar asas, R$ 1.500,00 é algo meio difícil de te arrancar sorrisos (que dirá suspiros). Pois sim, no Rio Grande do Sul, descontando os impostos e tudo mais, é isso que sobra na nossa continha bancária para pagar o aluguel, o telefone, a internet, a luz, a comida e ainda ter uma vida boa como a minha. E sim, eu faço milagre por não ficar no vermelho. Fico contente de pelo menos nesse quesito eu ter escutado o meu pai: me tornei uma das pessoas mais mão de vaca que eu conheço e isso faz o meu dinheiro render (e às vezes eu acredito que isso é mágica).

Agora, fica a perguntinha: será que não era melhor mandar tudo para o espaço, voltar a ser estudante e fazer aí uma Engenharia, um curso da área da saúde (que me dá náusea só de pensar em sangue) e tentar a felicidade monetária? Não sei! Honestamente não sei onde está o limite que te faz pender para o lado da satisfação profissional ou da satisfação salarial.

Eu já vi tantos profissionais reclamando de suas moedas e sempre pensei ‘uéé... escolheram isso por vontade própria.. não reclamem’... pois bem... garanto que nesse momento tem um engraçadinho que pensa o mesmo de mim e eu não os julgo. Eu escolhi realmente por que quis... por achar que escrever sobre tudo me possibilitaria a oportunidade de mostrar ao mundo coisas que eu descobri em uma ótica tão lírica, que logo transformaria o bruto em arte. Pensei que o entretenimento aparecendo sob a minha narrativa audiovisual poderia ser leve em uma televisão e que o sonho de criança se tornaria real a partir do momento em que eu não ouvisse os meus pais... Só que aí o tempo passou. Os 23 anos chegaram e junto deles fica a pergunta: onde está o mês em que eu vou poder comprar um carro e financiar uma casa? Foi por me fazer essa pergunta que eu entrei em colapso com o meu estômago e estamos até agora discutindo quem está errado: eu ou os meus pais.


De qualquer forma, não posso voltar atrás, mas se alguém souber a solução para tanta choradeira, coloque a resposta aí embaixo... só, por favor, não cobre, senão vou ter que deletar antes de ler, afinal, de contas já bastam as minhas...