terça-feira, 4 de agosto de 2015

Uma noite torpe, uma loucura.

Faz tempo que não venho ao encontro das palavras. Desaprendi a deixar os dedilhados falarem por si. Perdi as contas de quantas vezes fui ao teclado, e mais ainda das que pensei em ir. Tenho andado descompensada. Perdida. Perdi o rumo e deixei cair o prumo em uma solidão que vai além do que a alma revela. Cansei de chegar ao porto e desistir de esperar pela Lua, assim como cheguei aos bares e tive ânsia de fugir ao despertar dos próximos dez minutos. Caí em todos os tombos, e me remediei quando quis chegar ao sono.

Já desisti de fazer história, ou de contar sobre a vida (des)interessante daqueles que estão na volta. Colecionei milhares de cartas sem destinatários, e roubei partes das que entreguei – só para me auto afirmar. Calei a consciência que sempre deitou tranquila, destemida pela boca que disse mais do que os pares de ouvidos gostariam de escutar. E foi nesse trajeto de concertos poéticos que se esbarraram em acordes que expressei a canção que ainda não tinha escutado na antiga agulha.

Tentei soprar umas quantas verdades, mas em todas elas – ou pelo menos em sua maioria – o sopro vinha ao meu encontro, me fazendo engolir cada sílaba bem ditada pela ordem da ética. E por mais que eu considerasse que estava na curva certa, vi que o correto nem sempre mora em nossa caixa de madeira da sala, que teimosamente chamamos de lembrança.

Das saudades criei o verbo e entornei uns goles mais do que devia daquele frisante com sabor de abacaxi do tang. Queimei os tocos do chão e percebi que estava sozinha, mesmo que acreditasse que isso era impossível. Arranquei a gargantilha da fé, mas me peguei rezando por dentro e entrando cada vez mais naquela vala do medo. Deixei os ruídos no espaço de tempo que teimava em passar ligeiramente, enquanto eu sufocava uma tristeza que não sabia de onde vinha.

Transpareci nos ombros doloridos a rigidez de uma noite mal dormida, e encarei no reflexo as marcas de uma dor sem nome, sobrenome e endereço. Voltei ao sol depois de perder o fenômeno lunar que só se repetirá em vinte anos, e temi esquecer daquilo que me deixa viva após cada segundo respirado.
Não, não achei que era o fim de qualquer coisa. Nem o meu. Só fiquei entre aquilo que conhecemos por torpe, e me permiti vacilar para solicitar um pedido formal de desculpas aos ouvintes natos da noite.

Não creio, também, que a loucura seja passageira, nem que ela escolhe em que porta bater. Ela chega, entra, abastece os batimentos cardíacos, eleva a ansiedade e cai por terra quando um abraço te aperta e faz o sangue pulsar mais intensamente. Mas ela está aqui, aí, e em toda parte. Ela nasce de uma perda, ou de um quase ganho. Fica no lugar do dinheiro mal empregado, e das posses perdidas em um ensaio. Ela te arranca da cama, mas também dos bares, e te derruba na esquina com um copo de cachaça barata – ou de qualquer coisa que te faça acreditar que ela já foi. Mas ela não vai. Ela permanece isolada das vistas, tão nítida quanto a fé dos descrentes, e cresce na veia de um fogo que queima no estômago quando se menciona o amor.

Dizem que os loucos são os felizes, mas felizes são os que ainda conseguem admitir a loucura. E por mais que você zombe da minha, um dia ela te faz prisioneiro de si mesma. A loucura é a única ausência que não te deixa só.


A luz do teclado invade o quarto pálido e úmido, mas continua clamando por algo que faça a diferença e que tenha valoração para ser lido. Mas o que eu entenderia disso, não é mesmo?! Como eu saberia o que os outros gostariam de ler, se eu mal sei o que ao certo preciso escrever... Talvez seja exatamente por isso que aquela orelha do livro foi a única parte dele que se tornou real. E ao contrário da minha assinatura nas prateleiras da livraria, o que fica de mim é a loucura de ainda escrever assim. Sem pé ou cabeça, mas com alma.

Ausência

Já tem tempo que eu não venho bem. São milhares de coisas e situações que me confundem e que fazem das horas, dias intermináveis de dor de cabeça e efeitos colaterais. Às vezes parece que eu estou entorpecida de algo que não conheço, e me desconheço quando olho o reflexo do que eu me tornei no espelho.
Eu não sei em que momento eu dei o passo desajeitado, mas eu sei que desde que sai de lá eu venho tropeçando e caindo em valas cada vez maiores. Nunca fui de me deixar abater, e ultimamente tudo que eu vejo é uma profunda tristeza que não sai do canto meu olhar.
Eu já não sei se é ausência de alguém, ou de mim mesma. Eu nunca consegui conviver apenas comigo. Sempre precisei fazer uma ligação para acompanhar meus passos pelas calçadas da cidade, ou de uma música para adentrar a rodovia que me ligaria a um futuro distante. Nunca consegui tomar um mate sem ter para quem passar a cuia, ou dirigir sem poder olhar para o lado. Eu nunca suportei qualquer coisa que me prendesse a ouvir apenas a minha voz, e talvez seja por isso que nunca tenha me acostumado com ela.