quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O que existe nas ruas?!


A parada de ônibus tem sido um excelente lugar: ela me ajuda a encontrar boas histórias. Parece um tanto engraçado, mas quando nos permitimos conhecer, nos deparamos com a brilhante magia das ruas.
Barba comprida; metade acinzentada e metade branca; chapéu na cabeça e sacola nas costas; olhar azul. Ele chega e diz: “Os jovens acham que os velhos são inconvenientes. Eu agora vou ser atrapalhando este casal”. A princípio tive receio, porém, dei chance aos meus ouvidos curiosos.
Ele era poeta. Pediu licença e declamou um poema sobre as mulheres. Depois citou um trecho de Raul Seixas.
Cá comigo mesma pensei – quem será este homem? – a resposta veio imediata: “Sou morador de rua, não tenho vergonha de dizer. Atualmente me trato no CAPS ad e sou jornalista. Hoje falo com as pessoas sem uma gota de álcool na boca” confessa feliz. Creio que ele tenha dito sua idade, algo parecido com 60 anos, mas não garanto. Sua aparência judiada demonstra mais que isso.
O que eu quero dizer até agora é que estou em Florianópolis, capital de Santa Catarina, e precisava muito de uma matéria para este Diário, porém, tenho de admitir que me perdi nas matérias do câncer. Gostaria de passar algo positivo para os meus leitores. Tive vontade de falar sobre Ecologia (assunto muito comentado por aqui). Daí a surpresa: a boa reportagem surge quando menos esperamos.
Hoje o que eu quero passar de conscientização para vocês, é que a vida surpreende. A inteligência não está nos colarinhos brancos; muito menos nas gravatas engomadas. Aquele que você olha atravessado pode ter uma palavra muito mais útil do que uma mulher saindo do shopping. A experiência é o caminho para o saber.
Divulgação
Pode parecer que esta crônica esteja incompleta – afinal não sei nem dizer o nome do meu real personagem – mas eu posso contar do seu olhar; posso ficar horas mencionando as suas palavras para catar uma moeda ao fim das mesmas; assim como posso dizer exatamente o que ele falou quando recebeu minha contribuição: “Thank you! You do not speak English?” (Obrigada! Vocês não falam inglês?). Contive-me em dizer – envergonhada – “Não, mas sei que preciso muito!”. Então ele completou: “Hoje em dia é essencial saber falar inglês, espanhol e português. É o mínimo. Eu sei estas três”. Sorri meio sem graça e concordei.
Agora fica a reflexão: Quantos de nós estudamos, temos acesso às melhores informações, voltamos para uma casa e ingerimos todas as nossas refeições diárias? A maioria. Ainda assim conseguimos reclamar do tempo, do calor – no verão – e do frio – no inverno. Ficamos insatisfeitos com o racionamento de água, mas na maior parte das vezes, contribuímos para a sua ausência: jogando lixo em locais impróprios e esbanjando-a como se fosse fonte inesgotável.
É preciso estar em constante equilíbrio, pensar sobre a vida e sobre o que ela nos apresenta todos os dias.
A lição de hoje é para que todos nós possamos olhar para dentro de nós mesmos. Ver o que ali existe. Será que nossos conceitos estão adequados para com o mundo?

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