A parada de ônibus
tem sido um excelente lugar: ela me ajuda a encontrar boas histórias. Parece um
tanto engraçado, mas quando nos permitimos conhecer, nos deparamos com a
brilhante magia das ruas.
Barba comprida;
metade acinzentada e metade branca; chapéu na cabeça e sacola nas costas; olhar
azul. Ele chega e diz: “Os jovens acham
que os velhos são inconvenientes. Eu agora vou ser atrapalhando este casal”.
A princípio tive receio, porém, dei chance aos meus ouvidos curiosos.
Ele era poeta. Pediu
licença e declamou um poema sobre as mulheres. Depois citou um trecho de Raul
Seixas.
Cá comigo mesma
pensei – quem será este homem? – a resposta veio imediata: “Sou morador de rua, não tenho vergonha de dizer. Atualmente me trato
no CAPS ad e sou jornalista. Hoje falo com as pessoas sem uma gota de álcool na
boca” confessa feliz. Creio que ele tenha dito sua idade, algo parecido com
60 anos, mas não garanto. Sua aparência judiada demonstra mais que isso.
O que eu quero dizer
até agora é que estou em Florianópolis, capital de Santa Catarina, e precisava
muito de uma matéria para este Diário, porém, tenho de admitir que me perdi nas
matérias do câncer. Gostaria de passar algo positivo para os meus leitores. Tive
vontade de falar sobre Ecologia (assunto muito comentado por aqui). Daí a
surpresa: a boa reportagem surge quando menos esperamos.
Divulgação |
Pode parecer que esta
crônica esteja incompleta – afinal não sei nem dizer o nome do meu real
personagem – mas eu posso contar do seu olhar; posso ficar horas mencionando as
suas palavras para catar uma moeda ao fim das mesmas; assim como posso dizer
exatamente o que ele falou quando recebeu minha contribuição: “Thank you! You do
not speak English?” (Obrigada! Vocês não falam inglês?). Contive-me em dizer –
envergonhada – “Não, mas sei que preciso muito!”. Então ele completou: “Hoje em
dia é essencial saber falar inglês, espanhol e português. É o mínimo. Eu sei
estas três”. Sorri meio sem graça e concordei.
Agora fica a
reflexão: Quantos de nós estudamos, temos acesso às melhores informações,
voltamos para uma casa e ingerimos todas as nossas refeições diárias? A
maioria. Ainda assim conseguimos reclamar do tempo, do calor – no verão – e do
frio – no inverno. Ficamos insatisfeitos com o racionamento de água, mas na
maior parte das vezes, contribuímos para a sua ausência: jogando lixo em locais
impróprios e esbanjando-a como se fosse fonte inesgotável.
É preciso estar em
constante equilíbrio, pensar sobre a vida e sobre o que ela nos apresenta todos
os dias.
A lição de hoje é
para que todos nós possamos olhar para dentro de nós mesmos. Ver o que ali
existe. Será que nossos conceitos estão adequados para com o mundo?
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