quarta-feira, 8 de abril de 2015

Um pouco de nós



E aí tu vai cair. Vai dizer que doeu mais dessa vez. Que talvez nunca tenha sentido algo parecido. Não, melhor, vai afirmar que nunca sentiu. O mundo vai ir aos pés. Agora não é uma gota no copo com água; já virou um mar imenso e intenso. As dores de cabeça vão te tirar o sono. A fome. Vai devorar aquela pizza quase vencida por gula. Não vai querer parar em pé. Vai ir atrás. Correr. Cansar. Deitar e esperar. Vai dizer que não aguenta mais as próprias lamentações. Vai jurar não mais amar. Vai querer se despir do futuro. Desacreditar em todas as linhas do presente. Vai se anojar do passado, até que ele comece a fazer falta. Vai se agarrar à saudade. Vai colocar fogo no lado ruim. Enaltecer os pontos positivos. Mas olha só que maravilha, se era tão perfeito por qual motivo não deu certo? Ah, mas então é hora de lutar mais um pouco. Quem sabe um grito mais potente; um sorriso estridente. Quem sabe essa seja a hora de recomeçar. Não, não é.

Não vou mais amar como amei. Esse foi o maior sentimento que tive. O mais intenso. O mais verdadeiro. Foi esse que me tirou o fôlego. Com 20 ou 40, tanto faz, a idade já não importa, não amarei mais. Paixões? Que nada! Tudo se foi pelo ralo. Não quero mais ninguém. Não mesmo. Se ele bater à porta talvez eu abra. Tenho certeza que vou abrir. Não vou deixá-lo sair. Ah, meu Deus, deve ser por isso que ele não vem. Estou disponível, está na cara. Perdi o amor próprio e tudo que eu poderia chamar de meu, inclusive as chaves do apartamento que deixei dentro do carro para o caso do acaso esbarrar na porta do prédio de madrugada. Seria "sem querer".

E aí eu vou querer colocar uma faixa na boca de todas as pessoas que me dizem que o tempo é o melhor remédio. Não! Fiquem quietos, vocês não sabem de nada. O tempo não cura. O tempo martiriza. Não cicatriza. Fere. Dói. Traz as lembranças da caixa que esqueci de chavear. O tempo é um tolo. Um idiota. Por favor! Não me diga que passarei por isso outras vezes, pois das vezes anteriores não foram assim. Não, eu não amei como hoje amo. Agora é diferente. O cheiro é mais intenso. O beijo é mais envolvente. Com esse amor eu me casaria. Não quero mais saber de vestidos de noiva. Meu mundo acabou.

E aí, uma semana passa; o mês também. E daqui a pouco já estou colhendo vários deles. As festas são parte da rotina, as gargalhadas venceram as lágrimas. Reaprendi a viver. E, que surpresa: sabe aquele amor infinito? Passou. Acabou. Findou-se. Outro já nasceu. Agora sim é de verdade. Agora sim serei feliz. Esse é para sempre. Para sempre? Sim, existe sim! Ah, estava enganada! O tempo cura! Cura tudo.

Ué sai. Parece que já li esse texto, em um outro tempo, sob uma nova raiz. Ah é. Já vi. Já escrevi. Já senti. É que amores vêm e vão. Amores saem de dentro pra fora, mas também se fazem intrusos de fora para dentro. Não pedem licença. Não há prazo de validade.

Pare com essa bobagem de que vai morrer. Ergue essa cabeça aí. Ou melhor, entorta. Olha para o lado. Sabe aquela garota linda com filhos pequenos? Tem câncer. Sim, e ela está sorrindo. Vai se curar, está quase curada. Você ainda acha que têm problemas? Olhe para cima. Veja através das nuvens. Não conseguiu? Eu te ajudo. Lá existe um cara que morreu em nome de toda uma humanidade que pouco se lembra de sua existência.

Essa é a maior de todas as verdades (se é que ela tem tamanho). Nenhum amor será mais forte que o outro por si só. Amores acontecem sob nossos parâmetros. Dependem de nós, dos outros, das circunstâncias. Dependem até da geografia. Talvez eu tenha vontade de morrer por um certo alguém. Mas calma. Logo o sol nasce, um outro amor vem, e aí tu percebe que ele era grande sim, parecia o maior de todos sim, mas é por que estava perto. Era intenso. Estava ali. É como o Sol e a Lua. Os dois existem, nenhum dorme. Se há Sol, não é que a Lua tenha deixado de existir e seja insignificante, ela só não está tão próxima como aquela estrela brilhante pegando fogo (bem como a paixão que tu sentes agora).

E quer saber? A melhor parte é quando você já descobriu isso.


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Baseado nas histórias que encontro pelo caminho, principalmente nas minhas.

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