Eu já
perdi as contas do número de vezes que eu escrevi cartas; de todas as vezes que
eu disse ‘eu te amo’; de quantos abraços eu voltei apenas para dar... perdi a
conta de quantas vezes liguei apenas para ouvir uma voz, ou corri para
encontrar alguém. Eu já não sei se foi bom ou ruim, eu só sei que teimei todas
as vezes que alguém merecia ouvir algo que eu tinha para dizer. Nunca fui de
engolir sentimentos ou lágrimas, nunca deixei de ser aquilo que eu era pelo
medo das conseqüências. Eu sempre fui isso que todo mundo vê, com os defeitos
que todo mundo aponta... eu sempre fui eu mesma, mesmo quando a dica era ser o
oposto.
Depois
da tragédia de Santa Maria eu leio todas as cartas que um deixa para o outro
depois de perder, da maneira mais ignorante, o amor de sua vida. São jovens,
jovens como eu, que terão muitos outros amores, ou que pelo menos teriam. São
jovens que estudam, que queriam crescer, que tinham gana para serem melhores a
cada amanhecer. São jovens apaixonados, cheios de lembranças... jovens que
tiveram seus sonhos arrancados.
De
todas as palavras que eu já escrevi, de todos os romances que eu já, de todas
as histórias que eu já vivi nada foi mais triste, nada foi mais emocionante,
nada foi mais chocante do que ver um jovem dizendo um ‘eu te amarei para sempre’,
na angústia de uma perda irreparável, sabendo que o telefone não vai tocar, o
sms não vai chegar com aquela resposta confortante de um ‘eu também’. Talvez eu
queira escrever mais uns mil bilhetes, dizer mais mas mil vezes um ‘me dá uma
chance’ e ter a esperança de receber uma resposta... pois é melhor viver na
ilusão, do que ter sua ilusão arrancada.
Dói,
arde, sangra o peito cada vez que eu leio algo referente à Santa Maria. Dói ver
rostos juntos que nunca mais serão fotografados; dói ver lembranças tendo que
ser penduradas na parede para tentar secar a dor... São pais que perderam
filhos, são irmãos que perderam melhores amigos... são apaixonados que perderam
seu par de valsa, sua metade da laranja, de uma adolescência, de uma recém fase
adulta, que nunca mudará de fase... jamais passará daquela madrugada de domingo
que nunca mais será esquecida...
Nada
que eu disser vai confortar... nada que eu tentar pronunciar vai ser válido,
pois eu sei o que é amar sem ter uma resposta... mas eu também sei que é só
passar pelo lugar de encontro e aí tudo ficará bem... às vezes ver já é o
suficiente e nem isso estes jovens terão mais... É... um trator passou por cima
de centenas de corações que na semana que vem receberiam uma aliança de
compromisso, que no carnaval cantariam a alegria de estarem vivos... são jovens
que não acordarão mais e nós continuaremos aqui, como estamos, escrevendo todos
os dias aquilo tudo que queremos... contando ou não com respostas...
Que nós
saibamos amar sem pensar, querer o bem sem pesar, dar chances sem ter de
calcular o futuro, pois o futuro não existe... o futuro é um presente que nos é
dado a cada segundo.. a cada anoitecer, a cada abrir dos olhos... AME, ame
sempre... e deixe que lhe amem... pois só quem perde sabe a dor que é não ter
mais para quem dizer ‘fica aqui comigo’.