quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Aos amores de Santa Maria


Eu já perdi as contas do número de vezes que eu escrevi cartas; de todas as vezes que eu disse ‘eu te amo’; de quantos abraços eu voltei apenas para dar... perdi a conta de quantas vezes liguei apenas para ouvir uma voz, ou corri para encontrar alguém. Eu já não sei se foi bom ou ruim, eu só sei que teimei todas as vezes que alguém merecia ouvir algo que eu tinha para dizer. Nunca fui de engolir sentimentos ou lágrimas, nunca deixei de ser aquilo que eu era pelo medo das conseqüências. Eu sempre fui isso que todo mundo vê, com os defeitos que todo mundo aponta... eu sempre fui eu mesma, mesmo quando a dica era ser o oposto.
Depois da tragédia de Santa Maria eu leio todas as cartas que um deixa para o outro depois de perder, da maneira mais ignorante, o amor de sua vida. São jovens, jovens como eu, que terão muitos outros amores, ou que pelo menos teriam. São jovens que estudam, que queriam crescer, que tinham gana para serem melhores a cada amanhecer. São jovens apaixonados, cheios de lembranças... jovens que tiveram seus sonhos arrancados.
De todas as palavras que eu já escrevi, de todos os romances que eu já, de todas as histórias que eu já vivi nada foi mais triste, nada foi mais emocionante, nada foi mais chocante do que ver um jovem dizendo um ‘eu te amarei para sempre’, na angústia de uma perda irreparável, sabendo que o telefone não vai tocar, o sms não vai chegar com aquela resposta confortante de um ‘eu também’. Talvez eu queira escrever mais uns mil bilhetes, dizer mais mas mil vezes um ‘me dá uma chance’ e ter a esperança de receber uma resposta... pois é melhor viver na ilusão, do que ter sua ilusão arrancada.
Dói, arde, sangra o peito cada vez que eu leio algo referente à Santa Maria. Dói ver rostos juntos que nunca mais serão fotografados; dói ver lembranças tendo que ser penduradas na parede para tentar secar a dor... São pais que perderam filhos, são irmãos que perderam melhores amigos... são apaixonados que perderam seu par de valsa, sua metade da laranja, de uma adolescência, de uma recém fase adulta, que nunca mudará de fase... jamais passará daquela madrugada de domingo que nunca mais será esquecida...
Nada que eu disser vai confortar... nada que eu tentar pronunciar vai ser válido, pois eu sei o que é amar sem ter uma resposta... mas eu também sei que é só passar pelo lugar de encontro e aí tudo ficará bem... às vezes ver já é o suficiente e nem isso estes jovens terão mais... É... um trator passou por cima de centenas de corações que na semana que vem receberiam uma aliança de compromisso, que no carnaval cantariam a alegria de estarem vivos... são jovens que não acordarão mais e nós continuaremos aqui, como estamos, escrevendo todos os dias aquilo tudo que queremos... contando ou não com respostas...
Que nós saibamos amar sem pensar, querer o bem sem pesar, dar chances sem ter de calcular o futuro, pois o futuro não existe... o futuro é um presente que nos é dado a cada segundo.. a cada anoitecer, a cada abrir dos olhos... AME, ame sempre... e deixe que lhe amem... pois só quem perde sabe a dor que é não ter mais  para quem dizer ‘fica aqui comigo’.

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