segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Rastros do passado...

Eu sai e não retornei.
Lembro como se fosse ontem. Sai como todos os outros dias, às 7h e bati na porta da minha grande amiga (Marina). O pai dela tirou o carro da garagem e nós fomos para o colégio. Apesar de eu estar contando os minutos para esse dia, eu jamais imaginei que seria tão rápido.
Eu fui para aula, almocei no centro (coisa não comum), e na hora de voltar para casa, lá estava o meu novo endereço.
Eu não me despedi (como pretendia) do meu quarto, que tanto esbravejei e sorri. Do pátio que me viu crescer. Dos vizinhos que fizeram a minha infância passar voando. Nem dos cantos que eu nunca olhei nesses 11 anos que estive por lá.
Pode parecer banal, ou até mesmo estranho, mas até hoje sinto falta. A casa não ficou sozinha por um só instante. Não tive tempo de ir, nem oportunidade, ao seu encontro.
Quando voltei ao bairro, senti algo estranho: eu não podia entrar no portão que até pouco tempo atrás era MEU.
Hoje, vendo fotos antigas, lembrando de pessoas especias, eu penso no quanto eu fui feliz, e eu nem sabia. Eu desejava apenas crescer. Completar 15 anos. Depois a expectativa dos 18 era o que me atraia. A faculdade virou o pico de curiosidade. Os 15 já estão na lembrança daquele pátio com balanço. Os 18 já são quase 20. E a faculdade se transformou em uma guerra para um futuro melhor.
Talvez essa ânsia tenha feito eu viver com menos intensidade a minha adolescência. A minha infância. Confesso que de algumas coisas sinto falta. Afinal, adorava jogar vôlei até tarde. Depois as várias tentativas, cheias de chantagens emocionais, eu e a Marina fazíamos de tudo para conquistar nossos pais e assim eles nos deixarem 'posar' fora de casa. Gente... parece que foi ontem. Era algo desafiador, que nos deixava calculando horas as palavras, decorando as frases como em um texto cinematográfico. Parece que foi ontem que escrevíamos bilhetes para conversar até às 6h e ninguém acordar. As guerras de travesseiros. De ursos. As noites vendo desenho animado e achando um máximo sem igual.
Parece que foi ontem que dar a volta na quadra de bicicleta era algo mágico. Jogar baralho e tomar banho numa piscina de mil litros no pátio era muito legal.
E então eu me pergunto: Como é a infância de hoje? a minha foi ontem, um passado tão perto que chega a deixar rastros. Ainda assim, éramos felizes. Tínhamos limites. Conhecíamos a palavra não. Chinelada nunca foi motivo para chamar Conselho Tutelar. Uma palmada para repreender - e obter sucesso - não era espancamento. O Video Game demorou para chegar, e tínhamos hora para jogar. Televisão? só víamos o que era adequado para nossa idade.
O computador estava sempre desligado. Gostávamos era de estar na rua de chão. De ir ao mercado comprar guloseimas e fazer piquenique na frente de casa.
Parece absurdo, comparando aos costumes de hoje: apenas 5 anos depois.
O Mundo acelerou muito rápido. Mudou completamente.
Eu sinto falta das minhas doces brincadeiras. Das gargalhadas. E se hoje eu não retorno lá, é por pura falta de vergonha na cara: Nos damos ao luxo de colocar a culpa no tempo. Mas ele passa: para nós e para os outros. Hoje quem está aqui, pode não estar amanhã.
Que me perdoem as pessoas dessa modernidade avançada, mas eu ainda prefiro o que é antigo. O que era mais saudável.
Eu trago doces lembranças. Eu vejo meus olhos e meus lábios sorrirem de um passado que não vai voltar, de uma casa que já não é minha. Mas, de tudo que se foi com o tempo, restaram as amizades.
Portanto, passe o tempo que passar, as mudanças que tiverem de acontecer, nunca deixe de valorizar o que de melhor você possui em sua vida: Os amigos de verdade.

Valorize a sua infância e o seu passado. Desse jeito o seu presente será digno e o seu futuro cheio de esperanças.

Um comentário:

  1. Lindo Jé, não tive como não me emocionar lendo ! Tu consegues transformar sentimentos em palavras, que ao lermos tornam-se vivos de novo.. Eu não tenho como descrever a saudade que tenho de ti, de tudo que passamos, das coisas mais ridículas que fazíamos, e éramos as pessoas mais felizes desse mundo ! Sinto falta até mesmo das brigas, quando uma queria brincar de boneca e a outra queria andar de bicicleta... sabes, tu sem dúvida fez minha vida mais feliz, e ainda faz, cada vez que vejo textos como esse, ou nos encontramos em uma dessas esquinas da vida para tentarmos em pouco tempo voltar aquela antiga confidência que tínhamos !! Saudades amiga, EU TE AMO !!! Beijo grande

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