Diversas vezes eu me peguei cheirando perfumes vagabundos. Não em essência, mas faltava na composição um pedaço do teu cheiro; do teu pescoço e de uma respiração descompassada e acelerada depois do beijo.
Diversas vezes eu me peguei chorando, cantando a canção já mencionada, e rindo, entre uma caixa e outra, abri lembranças, já encubadas. Talvez, entre o que sobrou, ainda restou um pouco de compaixão. Pois não se apaga, nem mesmo com borracha, as pegadas deixadas em um coração.
Diversas vezes eu me peguei ajoelhando, pedindo desculpas por erros que nem ao menos cometi. E de tantos tombos, fui colhendo mercúrio, forrando de gases machucados que já nem sangravam mais.
E de tanto aplaudir a temerosa angústia, e cultuar a fé sem compromisso, me peguei rezando, encantada pelo meu próprio pranto, que já não me bastava de nada.
E se diversas vezes eu voltar aqui, para abrir o caderno que escrevi, e lembrar dos medos que engoli, vou recordar, que para não implorar, te deixei partir.
Mas um dia hei de dizer, entre um soluço de saudade e um aperto de orgulho, que o mundo não parou. E entre um copo de água e outro, vou subtraindo as tristezas de um passado, que tampouco começou.
Diversas vezes escorei os cotovelos na janela, para ver voltar aquele que se foi. Mas de tanto errar, e cansada de ali estar, descobri que por saber voar, inteligente será aquele que tomar por decisão, ficar.
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