Compartilho com vocês o discurso que fiz para a minha formatura no dia 30 de agosto de 2014, homenageando o meu curso de Jornalismo, mas também os formandos de Biologia, Educação Física e Pedagogia.
Boa noite, cumprimento a
magnífica Reitora, Professora Lia Maria Herzer Quintana, cumprimentando também nossos
convidados, empresa responsável por nossa colação e, claro, formandos do Centro
de Ciências de Educação, Comunicação e Artes.
Falar por si pode ser
algo razoavelmente fácil; por dois já deixa de ser simples; mas por quatro
cursos é uma tarefa que ultrapassa os limites da responsabilidade. Aqui
deixamos de lado todo e qualquer requisito de formalidade. Expressamos linhas
de um raciocínio que vem do coração. Não tenho a pretensão de fazer o melhor
discurso; nem de citar o Código de Ética de Ciências Biológicas, Comunicação
Social, Educação Física e Pedagogia; hoje eu só quero cumprir aquilo que eu
prometi para pessoas que eu nem conhecia,
quando me sentei com e disse que queria ser porta voz, para tentar ser o que
cada um precisava dizer.
Para ser honesta, quero
fugir do clichê. Só que eu encontro quatro caminhos e é preciso citá-los. Mais
do que tentar exercer o que o Jornalismo me ensinou, eu precisava estar ao
nível de Pedagogos; empolgada como os Educadores Físicos e amável como os
Biólogos. Mas a inspiração é como o amor; ela está o tempo inteiro dentro da
gente, porém, não é assim – do nada – que conseguimos fazê-la presente.
Eu sei que para os
formandos da Pedagogia, desistir não é uma palavra que está em pauta. Eles têm
o dom da paciência, da persistência. Eles possuem a ferramenta mais pura que
qualquer um de nós aqui gostaria de ter: o de saber ensinar. Entraram estudantes
e saem hoje professores da vida, onde a metodologia não é definida por artigos,
mas advém de almas que admitem que para cada quadro branco, há sempre um
momento de transmitir, e outro de conhecer.
E por falar em
conhecimento, eles são os responsáveis por estudar nosso bem mais puro, defender
o que nosso campo de visão enxerga de forma leiga. Enquanto muitos de nós
atiramos o lixo pela janela do carro, eles tentam salvar o pulmão do mundo; E
quando esquecemos dos animais, eles estão prontos para salvar todas as espécies
de bichinhos, sabendo da dedicação que um ser vivo necessita. Eles têm vocação
para amar. Estes são os formandos de Ciências Biológicas, que há muito tempo
vinham sonhando com esse dia.
É... eu disse sonho. O
mesmo sonho que nos empolgou durante os jogos da Copa do Mundo. Que fez com que
nos reuníssemos entre amigos e familiares, em busca de uma vitória, onde o
compasso dos batimentos cardíacos era impulsionado pela bola que estourava na
rede. Mas, não me atrevo a falar mais do que apenas como uma torcedora, tendo
em vista que hoje estou frente aos novos Educadores Físicos, ex-acadêmicos que
partilharam das salas de aula, e das quadras do Corujão, para exercer em prol
da saúde, além de estarem aptos para debater sobre qualquer esporte.
Mas, ao mesmo tempo que
estou aqui, nervosa e ansiosa, olho para meu colega que está lá, sozinho,
representando a nossa turma – que na verdade é uma dupla – de formandos em
Jornalismo. Nós que aprendemos a ouvir, a entender e a tentar transmitir para o
grande público; nós que tivemos de assumir o papel daquele que é os olhos e os
ouvidos da plateia que não pode chegar à sala destinada à imprensa; hoje
estamos aqui, fazendo um grande esforço de falar não apenas por nós, mas pelo
Centro de Ciências de Educação, Comunicação e Artes.
Tenho de admitir que
achei que essa seria uma tarefa fácil. Que redigir um discurso me daria a
oportunidade de tentar ser, em palavras, as frases que o coração dos formamos
precisava formular. Mas eu descobri que, ao contrário das últimas provas do
curso para concluir o semestre, esse seria o grande exame da minha vida: Falar
por nós.
Não é fácil subir e
estar à frente de um microfone que invade o coração de cada um de vocês que
está sentado aqui. Não é fácil ser a voz dos filhos de tantos pais que abriram
mão dos próprios desejos para realizar o maior sonho de ver que sua criança
cresceu, e que hoje faz parte do universo que os classifica como graduados.
Assim como é complicado não mencionar o nome de cada um dos professores, pois
alguns eu cumprimentei pelo corredor; outros eu conheço o rosto apenas hoje.
Sei da importância de
cada um que está aqui. Sei que o orgulho talvez devesse ser o título da minha
narrativa, mas ainda assim, eu só sei que nada sei, como disse Sócrates.
E de tudo que eu pude
pensar na hora de vir até aqui e os representar, queridos formandos, o mais
forte dos sentimentos foi refletir sobre o quanto nossos laços se estreitaram,
na medida em que nem nos conhecíamos. Passamos a ser personagens principais, nessa
historia que escrevemos juntos. Hoje, mais que partilhar do mesmo salão, do
mesmo baile, do mesmo dia de fotografias, das mesmas reuniões. Mais do que
esperar pela mesma data, nós nos tornamos uma grande família, que como todas as
demais, possui uma série de diversidades; de discórdias, mas que, ao mesmo
tempo, tem o mesmo objetivo: ser feliz. De preferência, juntos. Uma família que
começou para alguns ao final do ano passado; e para mim, em março desse ano.
Uma família que gritou na hora que perdeu a paciência, e que lamentou, como
todos os demais, ver seus planos sendo modificados de última hora. Que correu,
que sorriu, que postou uma foto da turma no Facebook, e que também compartilhou
aquela em que as faixas eram coloridas, em cursos que se misturavam por
afinidades, laços traçados por nós.
Eu vim aqui hoje para
dizer que eu não estou me formando no curso de Jornalismo, apenas. Eu vim para
agradecer também aos formandos de Biologia, de Educação Física e de Pedagogia,
pela oportunidade de poder tornar público o orgulho que tenho de cada um de vocês.
Para que eu pudesse manifestar que afeto não se compra; que carisma não se
vende; e que toda sinceridade possui uma base.
Eu vim para provar para
vocês, meus colegas, que não importa quantas vezes nós precisemos voltar aos
fatos e debater, desistir nunca deve estar na lista de oportunidades. Por mais
que a brincadeira não tenha graça; que os compromissos não sejam cumpridos de
última hora, é preciso respirar fundo e contar até o número ser vencido pelo
fôlego. Por que nós somos adultos. E nós sempre encontraremos um joelho para
curar; por que por mais que a bicicleta não tenha mais as rodinhas – por termos
conquistado o equilíbrio – barreiras
fazem parte de uma trilha desconhecida, e essa, meus amigos, é a vida.
Por mais que a gente
queira que tudo seja absolutamente do nosso jeito, existe um cara lá em cima
que nos guia e nos dá coragem de acender aquela vela que nem lembrávamos que
estava na gaveta; um cara que nos ensinou que não importa o tamanho da
escuridão; sempre haverá uma pequena chama, e que toda luz vence a negritude de
um céu sem esperanças.
E ainda assim, para
aqueles que não acreditam, eis a sua imagem e semelhança naqueles que residem
conosco, ou que estão na casa que mais gostamos de visitar, ou que já tiveram
de partir. Nossos pais serão nossos pais para sempre. Eles vão ser sempre a
base, o colo mais seguro, mesmo que o cheiro já esteja apenas na lembrança.
E quando a rebeldia
tomar conta dos nossos nervos, lembrem-se que haverá sempre um amigo do peito.
Um irmão que encontramos na rota, seja de sangue, ou de destino. Lembrem-se que
primos, tios, avós, padrinhos, afilhados, que família é família, mesmo que a
gente já não tenha mais a chance de encontra-los. E essas pessoas são os pontos
de uma costura que não permite arremate. Se cortarmos um só deles, o tecido se
desfaz.
E tudo isso que eu digo
hoje para vocês, é para chegar onde eu tanto queria: Esses são os nossos
alicerces. Somente seremos profissionais, o dia que formos seres humanos.
Somente teremos habilidade de lidar com os outros, quando estivermos cientes de
que não se deve esquecer de onde veio, para que se possa chegar onde deseja.
Somente seremos parte de uma legião de jornalistas, educadores, pedagogos e
biólogos, se antes de qualquer título houver um sobrenome. Mas eu não falo em
nomes, com o perdão de redundância, renomados. Eu falo em sobrenomes da
carteira de identidade, que fazem de nós os responsáveis pela própria vida, e
pela vida dos que nos cercam.
Hoje nos despedimos de
uma fase que um dia pensaremos que foi custosa e rápida. Hoje fechamos a porta
de um passado que é tão presente, que ainda possui cheiro de tinta fresca. Mas
todo adeus oferece também uma frase de boas vindas. E é isso que lhes deixo
como maior presente: O meu parabéns para cada um de nós; sejamos corpo de
formandos, de professores, de funcionários ou de convidados. O meu parabéns por
temos tido a oportunidade, e ter sabido o que fazer com ela.
Só transforma o bruto
em arte, quem tem a sensibilidade de ver com os olhos da alma, de sentir com o
toque do coração, e de julgar com a consciência.
Que quando sairmos
daqui para nos reunir com nossos convidados, possamos sentir o orgulho de dever
cumprido. E que esse dia jamais seja esquecido, nem por nós; nem por quem nos
ama, pois somente o amor é a chave mestra dessa caixa magnífica chamada vida.
Boa noite.